quinta-feira, abril 28, 2005

Parte do problema de não ter problemas é achar a solução para problemas alheios.
Parte da pizza de anchovas é de anchovas.
Parte do mundo e morre.
Parte-se e se quebra.
Para-te tempo.
Parte final.
Para ti...

quarta-feira, abril 27, 2005

Malakatan, parte dois

E Malakatan quis seguir seu sonho, quis sonhar. O temor de deixar seus companheiros sem sua proteção, o temor do medo deles, o tremor nos queixos deles o acorrentava em cada ponto que paravam.
Sua mãe então lhe disse que se era sonho, e se sonho fosse, era tão insignificante quanto a nota sol em meio à chuva. A nota dó depois do riso. O som do lá, aqui; disse que ele poderia partir livre sem se preocupar com o "se" dos outros; ouvir a si próprio.
A festa dos ciganos terminara, o vinho avinagrara, as vestes estavam manchadas da perda. E os ciganos foram para a direita, e as trovoadas seguiram junto, e Malakatan virou para o leste e nunca mais seguiu sua sombra antes do meio-dia.
Os ciganos perderam o maior de seus filhos em algum canto do mundo.

terça-feira, abril 26, 2005

Ontem, me falaram que amanhã era depois de amanhã.
Amanhã me dirão que o futuro chegou. E eu acreditei...

Registrando minhas decepções dos últimos dias

Primeira decepção:
Perdi todos os comentários, tudo zerado, nem a opção de comentar eu tenho mais. Por que não funciona esse Haloscan.com?
Segunda:
Vem depois do domingo
Terceira inconveniência:
O time homônimo da maior cidade do país se fudeu com a saída de dois animais de sufixo aumentativo.
Quarta:
Tem jogo do Brasil contra a Guatemala
Quinta incomodação:
O inverno chegou em Florianópolis
Sexta adversidade:
Estou sem sono, são quase 4 da manhã, estava tentando arrumar essa porcaria, vou ter de dormir à força
Sábado:
começa o fim de semana
Domingo:
ele termina

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segunda-feira, abril 25, 2005

Por vezes penso que Deus está escondido sob a forma do meu cachorro. Que um dia eu farei a pergunta certa e ele, em vez de só me olhar admirado ou latir, vai sorrir e bater um papo comigo; ele me contará todos os segredos do universo e ficaremos sentados, lado a lado, rindo dos outros seis bilhões que ignoram o que sabemos. Aqueles olhos inocentes com que meu cachorro me admira escondem mais do que demonstram.
Mas, pra falar a verdade, nós que somos Deus pros cachorrros; por isso que o cão é o animal mais feliz dentre os vertebrados.
PS: Haveriam cães ateus?

domingo, abril 24, 2005

Grande parte dos ciganos dormia, haviam desistido de secar a chuva do céu, mas Malakatan continuou a soprar as nuvens para mais além. Por mais vinte e sete noites repetiu ele tal fatigante feito; na primeira hora do mês de abril, abriu-se o céu finalmente. Aberto não para o sol, mas para o fim da lua. E a lua, desnudada, fugiu para trás das longínquas montanhas que a protegeram do olhar furioso do recém-acordado olho de fogo. Todos acordaram, então.
Regada a muito vinho, a festa perdurou por mais dois meses inteiros. Não usavam cálices; o vinho, derramavam-no nas próprias vestes e o sugavam através daqueles tecidos sujos que usavam; embebedavam-se com o que parecia ser o sangue de todo um sofrimento acumulado. O sangue que agora era o suor sob suas roupas; este gosto de terra e vinho e suor e calor os alucinava. Durante o banho, lavavam seus cabelos com mel; durante o almoço, comiam a sobremesa. Enfiavam fermento embaixo das unhas para tornar produtivas as mãos e cantavam, cantavam muito. Malakatan fizera seu trabalho.
Em algum canto do mundo.
(Continua)

sábado, abril 23, 2005

Cotas? Claro que sim!
Totalmente de acordo com as cotas para negros, para negros, não porque são inferiores, mas porque nós brancos estamos numa condição superior. E daqui, é mais fácil subir o degrau para a universidade.Não conheço médicos negros, nem dentistas, nem mesmo tenho colegas negros na universidade federal em que estudo.Tá, desculpa, no meu curso tem um angolano fazendo intercâmbio.Pelo jeito, quem é contra as cotas que acha que os negros são inferiores (como alguns comentaram), que não conseguem vagas nas universidades porque são burros, né? Pessoalzinho ignorante esses "de cor"! Faz mais de um século do fim da escravidão e esse pessoal não consegue subir na vida!Vamo mandá todos de volta pra África, talvez não tenham se adaptado por aqui!Faça-me o favor! Tem algo errado nesse país, é preciso consertar com medidas dinâmicas como essa: em vinte, trinta anos, talvez eu seja atendido por um dentista negro, meu gerente do banco seja negro também, e eu me toque que vivo num país de maioria não-branca!
Outra coisa: O país está falido, ouviram?, f-a-l-i-d-o! Não tem dinheiro para melhorar educação fundamental nenhuma, entenderam? Temos que pagar uma dívida... é injusta, é cruel, é outro debate. O fato é, não temos dinheiro! Logo, a questão "grandes investimentos para a educação fundamental" não deve nem entrar na discussão.
Além do que, o ensino fundamental só serve para nos "colocar" no mundo, descobrirmos do que gostamos, com o que nos identificamos (e, geralmente, escolhemos errado o curso); não usamos 10% do que aprendemos ali. Há tempo de sobra, durante a graduação, para reaprender o que não foi bem ensinado antes.
E paremos de pensar que somos todos iguais! Um gordo é diferente de um magro que não é igual a um idoso! Somos seres racionais, construímos cadeiras nos cinemas para os obesos (ai que injustiça, tiramos o lugar de dois magrinhos!), construímos rampas de acesso para os paralíticos, não? Pois reparemos um erro: fomos nós que cortamos as pernas dos negros! Fomos nós que os tiramos da sociedade.E nem tentem o argumento: "ah, ele está dizendo que os negros são inferiores."
Último ponto, me corrijam se estiver errado: existem pobres em todos os cantos do mundo, os ricos precisam dos pobres. Ser pobre é um fluxo, você pode enriquecer, o que não faltam são exemplos. Problema social é o caramba! Na Dinamarca tem pobres, a Alemanha está cheia de mendigos (eu vi uns pegando táxi, ok). O problema é racial mesmo!

CD 1, lado A
1
Alfredo olhava para o carro todo destruído ao seu redor como se acordasse de um prolongado sono. Era justamente o que acontecera.
2
Jorge, que amava Karen - que namorava William (que era filho de Jorge - , pensava em Karen (que pensava em William - que lembrava que esquecera de buscar seu pai na casa de Karen).
3
Se o volume da TV estiver alto, como estará a imagem do rádio? E se for o rádio que está com o som alto, estaria a TV com a imagem baixa?
4
Uma cenoura não seria suficiente para todas aquelas dez pessoas, nem mesmo um pão bastaria. Mesmo se tivessem uma pizza inteira, alguns ainda ficariam sem uma fatia. Embora fossem vegetarianos, um pedaço de carne daria para metade deles, ainda que todos preferissem sorvete. No fim, ninguém comeu nada, pois tinham acabado de almoçar.
5
Quase quatro horas da tarde, não, já são mais de quatro e meia! Dividindo o montante de horas passadas no dia de hoje por quatro, chegaremos a quatro blocos de quatro horas cada. Agora, se somarmos todos os quatro blocos novamente, surpresa!, não encontramos mais o horário atual: já vai dar cinco da tarde...
6
Um piercing no nariz era tudo que Naiara queria, seus pais, porém, a proibiram. Um dia, à mesa, fincou o garfo no próprio nariz. Está proibida também de ver televisão.
7
O Governo brasileiro deveria dar dinheiro para o pessoal de Burquina.Era só vender e doar o dinheiro do avião presidencial que todos os habitantes de Burquina poderiam comprar um bicicleta. Imaginem que progresso não seria para aquele país? Eu, pelo menos, sempre quis ter uma bicicleta.
8
-Passa a Salada.
-Não temos salada!
-Tá, então me vê um pouco do feijão.
-Nós não compramos feijão.
-Ahm? Ok, me dá um pedacinho dessa carne, então.
-Não tem carne nenhuma aqui! Não tem comida, meu filho! Não tem salada, não tem arroz, não tem feijão! Eu já te disse!
-Pão-de-queijo?
-Não.
-Misto quente?
-Não.
-Chips?
-Não! Não! e Não!
-...
-...
-Faz uma lasanha então, mãe! Sem presunto, só frango e queijo mesmo que tá bom.
9
Uma gaivota, que voava sobre o mar, mergulhou e se afogou. Um peixe pulou, morreu, e caiu de novo na água. A gaivota afundou, o peixe ainda bóia.
10
A partir do momento em que se vai a dois rodízios de pizza sem pausa para usar o banheiro, a partir desse momento, a vida começa a perder o sentido que já não tinha. Pois fui, vi, comi, venci, sobrevivi, na cama caí, só quero dormí.

sexta-feira, abril 22, 2005

Para ler, além de olhos, necessita-se a existência de linhas compostas por palavras. Ei-las:
Es gibt aber noch andere Wege ein Text zu verstehen: Steigen Sie auf ein Berg, Sitzen Sie da und zaehlen die Sterne! Danach, gehen Sie weiter und Sagen alles auswendiglich bis die Sonnenaufregungen. Allons! Chantez-vouz plus? Non? Et pourquoi? Le soleil est venu, la journée a demarré, laisse moi devenir l´ombre de ton ombre, l´ombre de ta main, l´ombre de ton chien... In the opposite case, if you saw me alone last year, you would call me Joe. Pio, la fenetra che parla! Pero entonces, si no es la mas grande, yo no puedo hablar muy piano! The dernière Spruch che yo ouvi, sagte das Gegenteil, mais non hablava beaucoup about my sofrimento.
Sim, para ler, talvez precise-se algo além de olhos e linhas, além de palavras.

inspirado nas expressões germânicas daqui

quinta-feira, abril 21, 2005

É impossível escrever após um dia movimentado: a cabeça fica fria, vazia de idéias, tudo o que foi pensado foi realizado. Um bom texto só sai de uma mente fervendo, em ebulição, depois de muitas horas sem fazer nada, só a pensar. Aí então as idéias ficam pegajosas, colam umas nas outras formando um emaranhado, ou uma pasta, de convicções. Qualquer pensamento que se pegue, aleatóriamente mesmo, já traz consigo diversos outros caminhos para a sequência do raciocínio, inúmeras ramificações que proporcionam a queda fluente do texto no papel. Ele jorra dos dedos para a tela.
Com a cabeça anestesiada de uma jornada cansativa, tudo é vácuo no interior. Com as idéias frias e lisas, os pensamentos escorregam e escapam um do outro como sabonete. Até que se consiga pegar um, até que este esteja estabilizado, até que... já passou a vontade de escrever.
Compor um texto é coçar algo que pinica dentro da cabeça.

terça-feira, abril 19, 2005

Um nicht zu vergessen!
Há um ano:

Segunda-feira, Abril 19, 2004
E com vocês...Amsterdam

Eu estava preocupado em achar algum albergue mais barato, todos na internet estavam na faixa de 20€ (pra quem tem carteira de alberguista!), em duas noites na capital holandesa eu iria gastar, no mínimo, se eu nao me alimentasse nem, 70€: 40€ pra dormir, 20€ pra ir e voltar de Ultrecht - de carona com a sobrinha da Miki -, e mais 10 pra chegar até Amsterdam.
(...)Logo na sexta à noite me levaram pra conhecer o centro, cheio de cafés lotados com as mesas todas na rua, e a Red Light District, cheia de pessoas - até famílias e senhoras - na rua olhando as vitrines. Depois tomamos um chopp e voltamos pra casa pedalando (havíamos ido de bicicleta, na cidade quase só há bicicletas, nunca vi tanta bicicleta)
(...) Um formigueiro, todos os cafés lotados, com as mesinhas na beira dos rios, dezenas de barcos passeando pelos canais, mercado de pulgas, coffeshops (a única coisa que tá sempre aberta, em todos os horarios), parques de diversoes, museus, ruazinhas estreitas - tudo mto cheio.Deixei esse dia pra caminhar sozinho por toda a cidade - passearia de barco no domingo (mas domingo choveu o dia todo. Nao fui).Fui na Madame Tussou (se fala assim, naum sei como se escreve): museu de cera, desde Marlyn Monroe e Spice Girls à Rainha da Holanda e Bob Marley; desde o maior comediante do século, Chaplin, até o maior comediante do momento, Bush.Tem um monte de foto proceis.À noite me levaram num restaurante africano. Tudo muito escuro, racista! , tô falando do ambiente: quase naum tinha lâmpadas, naum era um restaurante chique, mas eles disseram que a comida era mto boa. E era. Numa bandeja, um monte de carne com molho apimentado no centro rodeadas por panquecas sem recheio: "rasgava-se" um pedaco da panqueca com a mao e o usava como uma pinca (lê-se pinsa) para segurar alguns pedacos de carne. Muito bom mesmo.Eu queria sair sábado à noite, mas o Jens, o nome do cara, tava com dor de barriga ou alguma coisa parecida. Alugamos um filme entao; o pior filme que jah assisti, nem conseguimos terminar de tao ruim, "A kept promise".
(...)Depois, caminhando pelo centro, na chuva, vi umas pessoas jogando um esporte mto estranho, com juiz, uniformes, tecnicos, torcida e tudo. era tipo um basquete sem tabela (só a cesta lá no alto), misto - homens e mulheres-, numa grama sintética, com uma bola de handebol. Depois, no lugar combinado os encontrei de novo, Jens e Key, para um último café; e eles me levaram pra estacao central, onde peguei o trem de volta pra Ultrecht.
texto completo aqui

segunda-feira, abril 18, 2005

Mão dupla

Existem dois meios de se encarar a vida: ou se olha para cima ou se olha para baixo.
Quando olhamos para o alto, imaginamos ver a linha de chegada, o ponto máximo da evolução, e nos direcionamos para lá. Ficamos, porém, permanentemente insatisfeitos com nossos resultados, sabemos que a subida é longa. Há uma satisfação imediata quando alcançamos o próximo degrau, mas logo retorna a ânsia de uma nova subida; há sempre algo melhor pela frente.
Se vivemos olhando para baixo, permanecemos o tempo todo satisfeitos e, com isso, não evoluímos. Ficamos aliviados conscientes de que podia ser pior, de que há alguém sofrendo mais, e assim sorrimos e agradecemos sei-lá-o-quê por estarmos em tão "boas" condições.
A anestesia da felicidade ou o a evolução cansativa?
Por que ou?
Por que não anestesiar o cansaço e alegrar a evolução?

Alguém certamente contestará, dizendo que podemos também tomar o canteiro central da avevida e olhar para os lados. Tal alternativa, porém, não foi levada em conta devido à falta de colorido da idéia de que somos todos iguais, de que estamos todos juntos num terreno plano. A Terra já é redonda há pelo menos quinhentos anos! Pelamor-de-deus!

domingo, abril 17, 2005

Como olhar o cheiro agudo

Os cinco sentidos, quando embaralhados, se multiplicam facilmente. Cheirar o som da chuva e ver o som das ondas do mar valem mais do que comer camarão ou assistir à novela. É por isso que poemas depoem contra o uso comum da vida, seja quando vivemos a nossa, seja quando vivemos a de outrem; eles rasgam o invólucro da existência terrena e sublimam a alma.
Alguém que nunca ouviu - alguém que não pode ver - possui um mundo limitado, uma experiência de vida menos arredondada. Pois para aquele que não desenvolve a imaginação de ouvir o verde e cheirar o azul, não é dada a chave do Paraíso, que tem a cor doce e gosto liso e cheiro de branco.
Só com poesia compreende-se o poema, ame o poema, a poesia, ameop o ema.
A única outra maneira de superar a vida é com a morte, mas, de lá, não há certeza de que há como voltar.

Tu esqueces teu nome na sala, e sais pelas ruas à procura do vento: tudo o que achas é um macaco com um guarda-chuva, porque chove. Pois então, sem som, teus minutos passam mais depressa.

sábado, abril 16, 2005

Dos arquivos perdidos do Paraíso

1
Adão: Maçã de novo Eva? Isso deve ser coisa da cobra da tua mãe, não é?

2
Eva: Adão, por que vestimos folhas nas nossas vergonhas se não temos vergonha?
Adão: Ai, de novo não! Tira tudo então, vai! Aí vc consegue vaga no próximo BBB.

3
Eva: Querido.
Adão: hãm.
Eva: Tô com desejo.
Adão: Droga, que que cê quer dessa vez?
Eva: Alcança aquela maçã ali, por favor?

4
Eva: Falta quanto, Dãozinho?
Adão: Cala a boca e corre, vadia... Papai nos viu transando.
Eva: Mas Adão, você falou que o amor é lindo, e que estávamos fazendo amor!
Adão: É, mas Ele é muito ciumento querida.

Sobre o Poder do Piolho Azul e outros poréns

É real, só não vê quem não pode ouvir: o Grande Piolho Azul está em estágios finais para a formação do Grande Exército do Piolhos de Litião, e a poucos passos da implantação de seu novo aparelho dentário.
Este será um grande salto para a Piolhidade, até hoje extremamente amargurada pela saltitante opressão das Pulgas de Setim. A guerra declarada pelo Capitão John Covers Piolhus, à sétima hora do dia de hoje, está de acordo com os Acordos de Paz anuais firmados de ano em ano no couro de algum vertebrado.
Que o sangue jorre! e que a jarra sangre! Vídeos já correm pela internet onde são mostrados ataques suicidas de piolhos em cães e de pulgas em joelho de gente.
O parecer dado por Melinda Melbrook, esposa do lendário Kalvin Hair, decisivo na Batalha de Caspan, não foi dos mais otimistas e tem deixado muitos de cabelo em pé. Os ônibus funcionarão de hora em hora em horário de feriado, mas o comércio fechará aos domingos quando nos fins de semana.
Um último aviso: Apenas deixem suas casas em caso de chuva no Sertão da Calvície, embora todos estejamos carecas de saber que bombas não atingem clareiras e que clarões não incomodam bombeiros.
Raspem, porém, as axilas no verão: uma localidade perigosa para terroristas em fim de carreira.

O prazer de não fazer nada só perde para o prazer de se fazer alguma coisa no quesito historicidade. A lembrança de algo que fizemos é mais doce do que o arrependimento do que deixamos de fazer. Mas no momento, no agora, ambas as ações são igualmente preenchedoras, tanto sair e dançar, quanto deitar e dormir.
No momento, agora, fico com a segunda opção.

sexta-feira, abril 15, 2005


"Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuaria sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem
parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num
simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria
igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu,
conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu
risca teu nome e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo,
fica comigo inteiro."

Julieta Capuleto

quinta-feira, abril 14, 2005

Um sim, e um pudim

-Sim, mas e ela, sobreviveu?
-Não, meu Senhor, também comeu do pudim.
-E você, por que sobreviveu?
-Para contar-vos a história, Senhor, sinto muito.
-Então você sabia do veneno?
-Sim, Senhor, eu mesmo verifiquei o rótulo.
-Assassino!
-Sim, sinto muito Senhor. Quereis que eu arrume vossa cama?
-Polícia, socorro! Assassino! Socorro!
-Não há tempo para formalidades Senhor. Venha, deite-se, também comestes do pudim.

quarta-feira, abril 13, 2005

O Paraíso existe, mas não somos nós os habitantes

Aqueles que nunca pecaram, nem têm poder para isso, desconhecem o conceito, eles moram no Paraíso. O meu cão é um destes felizes premiados.
Os cães domesticados estão no topo da evolução terrestre; moram junto do seu próprio deus, comem à vontade sem precisar lavar a louça, sem precisar se servir nem se comportar à mesa - aliás, não têm de se comportar em lugar nenhum a menos que seu grande deus lhes dê um puxão de orelha. Não pagam plano de saúde, aluguel, conta telefônica; tomam banho raramente, têm seus potes de água e de comida sempre preenchidos e, claro, não trabalham. Não comeram da maçã, não foram punidos.
Eu sempre sonhei em ter uma vida assim, com essa única preocupação de saber em qual lugar se deitar a seguir, ou para qual lado girar. Meu cão se sente culpado por isso, e sempre quer demonstrar serviço, mostrar que está alerta: geralmente, quando me levanto da cama, ele sai latindo porta afora olhando atento para todos os lados.
Enfim, poderíamos cuidar de nós humanos tão bem quanto tratamos nossos cachorros (se estes últimos não fossem tão mais fofinhos).

sábado, abril 02, 2005

Quasi six disconixas
4
Eu vivo à espera de que alguém sobreviva,
Revivo o que ninguém mais espera,
Eu Divido o meio em duas partes e, viva!
Não duvido que vivo uma nova era!
3
Logo antes do despertar,
antes mesmo do adormecer,
pouco mais cedo que no jantar,
vi você vendo e vindo me vencer.
2
Ilógico é o que há quando a lógica emudece,
Vazio é o que fica quando nada mais sobra
Para cima caminha o mundo se não descee
suga o veneno da veia da velha cobra.
1
Qual o ponto culminante entre a noite e o sol?
Como permaneceremos à deriva no rio,
no calor que nos aquece antes do frio,
Qual a partitura que só rumina dó e si bemol?
0.1
Jovens transações transam corações,
cansam de correr entre multidões,
Tumultuam o transcorrer dos jovens
a idade, o tempo, dogmas e emoções.
Pense tanto naquilo que tu, só, tens,
Tente tanto o mar quanto os furacões.
-1
Abaixo a decadência do que declina!
Viva ao todo, à tudo, à albumina!
Da gema germine uma garra canina,
que agarre e me desgarre de tal sina!