quinta-feira, janeiro 20, 2005

1
Falta do que fazer dá vontade de fazer o que falta.
2
"Riobaldo, hoje em dia nem sei o que sei, e, o que soubesse, deixei de saber o que sabia..." Foi Diadorim que falou, não tenho nada a ver com isso; só tinha escrito um post enorme, o melhor do ano, e era pouco e se apagou, tô me mordendo aqui pra não espancar um rato-inglês.
3
Melhor filme 2004, Finding Nemo e Dogville
4
Ai... saudades do que escrevi e que se foi; tinha algo a ver com Deus, o Diabo e Brócolis.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

1
Houve um tempo
em qu´eu ouvia o vento
foi-se então o presente momento
do povo que vivia no dó ré mi.
Faltam folhas que fazem os fatos
das árvores sobram vivos boatos
como quando um cachorro ri.
Cinzas sentem, e não vêem nascer,
calam, o que não pode sobreviver.
Galhos cantam ainda que presos
não vêem correntes
são sobreviventes
do chão que abaixo carrega pesos.
O que sabe um peixe disso?
Nada! apenas nada submisso...
Logo um lago se esvazia
pronto apronta porcaria.
E os peixes? Assim conhecem o vento.
Assim morrem, frios, de modo lento.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Porque estivesse gelado

Porque seus pés estivessem gelados, não pensou em movê-los; pelo menos necessidade não havia já que ainda permaneciam fechados seus olhos. O conforto de não abri-los, a comodidade de esperar que o tirassem dali dançava diante dele na escuridão e ainda lhe fazia companhia. Dança esta, porém, um pouco, ou melhor, demasiadamente agitada e violenta visto que lhe dava pancadas na cabeça, nos ombros, nos pés. Sim, dança esta que pulsava em seu interior afastando sua atenção do sistema respiratório, não sabia que respirava, tinha dúvidas se respirava. Da negritude ao vermelho, o que poderia lhe ter lembrado o título duma obra de Stendhal, se a tivesse lido; do breu ao rubro, de um ao outro, do segundo ao primeiro; tal roleta bicolor lhe atormentava caso abrisse ou fechasse seus olhos. Entre o preto da proteção das pálpebras ou o vibrante vermelho do seu vestuário, escolheu o segundo, pela curiosidade, mas com certa hesitação. Daquela mancha escarlate correu os olhos para seus pés sem os alcançar e finalmente aí desapoiou a cabeça do onde ela, teria dito ele às testemunhas - se estas houvesse - , parecia ter ficado encostada durante todos os dez anos do seu casamento. Vã, e imprudente, tentativa sem sucesso: seus pés escondidos atrás dum metal, o qual ele não tinha idéia nenhuma de onde saíra; os braços esticados ao longo do pescoço e da cabeça, esta apoiada no volante; e facas no lugar de costelas, só poderia ser isso para explicar aquelas dores indescritíveis que sentia sempre que tentava virar, desdobrar ou apenas erguer um pouco suas costas. Volante! Sim, se um volante lhe servia de travesseiro ao contrário – pois sustentava a sua testa, não sua nuca -, então estava num carro; o que explicava aquele tronco de metal que ocultava seus pés. E se aquilo era um carro, e sua testa abusava sexualmente do volante, então as manchas vermelhas na sua calça...
Som, havia um som forte e agudo e contínuo também, mas isso não era mistério, ele reconhecia a buzina do seu automóvel, tantas vezes movida contra barbeiros e estressadinhos do trânsito. Ocorreu-lhe que, talvez, ele é que os fosse. Bem, fosse o que fosse, esperaria resgate mesmo se pudesse se livrar daquela situação sozinho; o que não era o caso pois sentia seus braços pelo roçar de suas orelhas, só sentia que eles ainda o acompanhavam, não percebia se o obedeceriam no instante que desejasse – ou no instante em que pudesse desejar. A dor já se cansara de atormentá-lo, a dor física pelo menos; o remorso é que o comprimia, por todos os lados, inclusive o interno; inclusive, sim, o interno naturalmente. As luzes o perturbavam um mínimo, o som de serra cortando aço, as faíscas decorrentes deste evento, as risadas comprimidas que ouvia de homens tão acostumados a tragédias desse tipo - à rotina dos acidentes automobilísticos -, um choro desesperado, alguém chorava!, nada o afastava do nada interno que se tornara seu corpo: falta de movimentos, carência de reflexões e o incômodo daquela dor na alma, só, isolada, no meio de carnes dilaceradas e ossos quebrados, e, como acontecera com alguns, moídos.
Com o branco veio o alívio da água que desentope a garganta de alguém sedento, com o branco do teto do seu quarto, que ele reconheceu rapidamente ao abrir os olhos. Fora um sonho muito louco!, diria ele para seus amigos, tentando passar a impressão de extrema desenvoltura no tratamento com o terrível pesadelo que tivera. Insistiria muito em comprovar seu ponto, caso pudesse; caso aquele teto branco fosse o teto azul-claro do seu quarto; caso suas duas pernas não estivessem, teoricamente, pois não podia vê-las devido à paralisia de sua cabeça e de seus braços, caso suas pernas não estivessem engessadas, caso aquela fosse a sua cama. Caso seus pés não estivessem tão absurdamente gelados.
Lefratel

sábado, janeiro 08, 2005

De mudanças de passagem no passado

Há momentos em que o que esperamos não acontece e o inesperado também não se manifesta, nada acontecendo no fim, portanto. Aquela nuvem que se forma ameaçadora no fim da vista, e não deságua água terra abaixo é um exemplo válido.
Ao dar um passo além da soleira do seu lar, Albertino decidiu abrir o guarda-chuva, com a mão direita, para não se molhar com a água que caía do céu molhada. Andava, com seus pés, um em seguida do outro numa coordenação perfeita - nunca dava dois passos com a perna direita sem intercalar com um passo da esquerda -, pela calçada; a mesma calçada em que encontrou, de frente, sua antiga amiga Anatólia, que era mulher e era sua antiga amiga. Pois Anatólia estava mudada. E como Anatólia estivesse mudada, Anatólia não era mais a mesma, concluiu Albertino espantado com sua rapidez de percepção perceptiva.
Estava chovendo e ela também havia aberto seu guarda-chuva para não se molhar com a chuva que caía do céu, e que era molhada (portanto, a molharia se a tocasse). Pois ficaram a se olhar, um para o outro, com seus respectivos olhos. Se se falassem, usariam a boca, mas não disseram nada, emitindo assim som algum. Carros, os que não estavam parados, passavam por eles em grande velocidade, pelo menos aqueles que não iam devagar. Logo um parou, porque era amarelo e porque era um taxi, e porque Anatólia o tivesse chamado com um sinal que fizera com sua mão, no exato intuito de pedir que o taxi encostasse para levá-la a algum lugar que ela diria ao motorista em alguns instantes.
Temos, então, Albertino que mira os olhos de Anatólia que se esquiva olhando o lado do pneu redondo traseiro, do taxi amarelo, e o motorista que a busca pelo retrovisor, o qual, por sinal, espelha a imagem das costas de Anatólia, que ainda está virada para Albertino. Ah, e há chuva! e fora tudo isso, ainda há o mundo que os envolve.
Se, com a boca, Albertino falasse, com os ouvidos, Anatólia o escutaria; mas ele preferiu dizer com gestos, no que foi repelido também por uma espécie de. Dois ou três segundos se passaram, ou mais também pois ninguém ali nada não calculou, antes que ela o deixasse a ele sozinho. O taxi partiu pois ela já entrara e fechara a porta e o motorista acelerara, deixando entrar, assim, combustível no tanque de combustão.
Pena Albertino nada ter falado, se o fizesse, certamente algo teria dito.
Infeliz decisão de Anatólia.
Mas, algo mudara realmente? Ele havia previsto a reação da moça, a Anatólia, e ela já sabia que ele não faria o que de fato não fez. Costumavam ser amigos, algo mudara lá, no antigo do antigamente, agora só continuavam o que um dia deixaram de começar; o dia que ele a beijou a força, com a boca, e ela fingiu que não gostou, o mesmo fatídico dia em que ele não a pedira ao seu pai: o que ambos mais desejavam e que ele não sabia.
Agora? Bem, agora a chuva o molhava, pois ele tentara acertar o taxi com seu guarda-chuva.

terça-feira, janeiro 04, 2005

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A obscura vontade de se tornar um guarda-chuva
O aneurisma cerebral esquerdo da parte inferior externa do glúteo, decorrente de uma acidental distensão no músculo ventral durante a passagem de ano, nem isso o desanimava de sua fixa idéia, meio estranha mas válida, seu fremente desejo - certamente pouco ortodoxo - de, quando crescesse, se tornar, perante o olhar insuspeito de todos, um guarda-chuva.
2
I was wonderin if the sun, a monkey, were and he stays there just laughing above our pretty cool ignorance. Yes, of course we ignore his existence, but we don´t know also nothing about the man who lives on the moon and this doesn´t turn us unhappier...
Ma mère voulait que je trouve quelque chose pour fair lorsqu´elle travaille. Mais qu´est-ce que je veux? Bien, encore une fois je vous dit: Je ne veux que mon lit!
Er war traurig und wollte ein bissen spazieren gehen. Das hat er getan. Ohne sich tu zogern, ist er durch den ganze Stadt geläuft und hat viele Hunde gesehen. Warun eine nach Hause nicht mitzubringen? Die konnen keine speise kriegen auf den Strasse, unter den Mulheimer... Na ja, hat er gedacht, Ich kann das auch nicht, meine muss Ich kaufen!

A morte do mundo
Transfigurado na face da figura inculta, sob pretexto de mais de quilo, antes fossem plumas o que visse, admirava o último poente possível para uma Terra não mais tão azul; baixasse os olhos, seria mais digna, a pose de contemplação para momento assim fúnebre, silencioso, tardio.
Poucos o acompanhavam, menos o sucederiam, um só talvez sobrasse - aquele que ainde tivesse forças para, o braço erguido, apagar a luz e fechar a porta antes de sair.