domingo, abril 17, 2005

Como olhar o cheiro agudo

Os cinco sentidos, quando embaralhados, se multiplicam facilmente. Cheirar o som da chuva e ver o som das ondas do mar valem mais do que comer camarão ou assistir à novela. É por isso que poemas depoem contra o uso comum da vida, seja quando vivemos a nossa, seja quando vivemos a de outrem; eles rasgam o invólucro da existência terrena e sublimam a alma.
Alguém que nunca ouviu - alguém que não pode ver - possui um mundo limitado, uma experiência de vida menos arredondada. Pois para aquele que não desenvolve a imaginação de ouvir o verde e cheirar o azul, não é dada a chave do Paraíso, que tem a cor doce e gosto liso e cheiro de branco.
Só com poesia compreende-se o poema, ame o poema, a poesia, ameop o ema.
A única outra maneira de superar a vida é com a morte, mas, de lá, não há certeza de que há como voltar.