domingo, abril 24, 2005

Grande parte dos ciganos dormia, haviam desistido de secar a chuva do céu, mas Malakatan continuou a soprar as nuvens para mais além. Por mais vinte e sete noites repetiu ele tal fatigante feito; na primeira hora do mês de abril, abriu-se o céu finalmente. Aberto não para o sol, mas para o fim da lua. E a lua, desnudada, fugiu para trás das longínquas montanhas que a protegeram do olhar furioso do recém-acordado olho de fogo. Todos acordaram, então.
Regada a muito vinho, a festa perdurou por mais dois meses inteiros. Não usavam cálices; o vinho, derramavam-no nas próprias vestes e o sugavam através daqueles tecidos sujos que usavam; embebedavam-se com o que parecia ser o sangue de todo um sofrimento acumulado. O sangue que agora era o suor sob suas roupas; este gosto de terra e vinho e suor e calor os alucinava. Durante o banho, lavavam seus cabelos com mel; durante o almoço, comiam a sobremesa. Enfiavam fermento embaixo das unhas para tornar produtivas as mãos e cantavam, cantavam muito. Malakatan fizera seu trabalho.
Em algum canto do mundo.
(Continua)