domingo, novembro 27, 2005

O sal na salada fria do vinagre de melão, o vômito avinagrado do açúcar no feriadão, arrotos feriados de melões sem sal, sob a ampla perspectiva da defecação.

sábado, novembro 26, 2005

A criação de um templo no meio da beira-mar seria a solução, não no meio na metade da rua, mas no meio no centro da rua, ou qualquer outro lugar com água. Instalaríamos chuveiros elétricos quentes em cada um dos sete lados e meio das paredes do templo, um seria de água fria para dar susto nos incautos argentinos que nos visitam diariamente de seis em seis meses ao longo do ano; faríamos festas a cada vinte e quatro horas. Taí a solução. Só não lembro qual era o problema.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Curta ou longa metragem - Três gerações de Paulo convivem juntas, café-da-manhã, almoço, jantar, e discutem sobre seu destino. Paulo quando criança e Paulo quando adulto iniciam o filme, Paulo quando velho aparece apenas no fim e contradiz todos os conselhos que Paulo adulto deu à Paulo criança.

terça-feira, novembro 22, 2005

A navalha de Ockham

Os astronautas americanos pisaram na lua sim, o sol não é a única fonte de luz ali, o que pode deixar com mais de uma direção as sombras no solo, a lua própria reflete luminosidade e todos sabem disso; não há senso de distância, o que parece perto pode apenas parecer estar perto; havia um mastro na horizontal acima da bandeira para que ela ficasse estendida, não havia motivo para fincar uma bandeira em solo lunar e deixá-la caída imóvel, já que inexiste vento que a tremule eternamente; homeopatia é farsa, não funciona, um placebo tem a mesma eficácia, então tomemos doses do mais barato; teorias de conspiração funcionam tão bem quanto o Orkut, só te roubam tempo e viciam. O mundo é mais simples do que imaginamos, escove os dentes pela manhã e não passe muito tempo vendo televisão durante a semana, pois a programação boa mesmo é aos domingos antes e depois do futebol.

domingo, novembro 20, 2005

Memórias de tempos vindos

colóquios solitários
de início de verão
antes que termine o dia
no caminho da solidão

pés pisam em falso
outros solos de aventura
pensam ainda amar
o que amando já não dura

pés que subiam morros
de passos mais avançados
arrancam suspiros vãos
de segredos despedaçados

movidos pelo momento
o sol do tempo corria
em nuvens do horizonte
a lua nua se dissolvia

antes do pôr-do-sol
nesse diário de paixão
o filme em outro cinema
repetiremos a sessão
oh, mal posso esperar
pelo próximo lento verão

terça-feira, novembro 15, 2005

Devo partir
Foi quando eu me levantei para voltar a dormir, caí no sono no instante que dava o primeiro passo, olhei em volta: não havia cama, ou se houvesse, eu não a via. Sigo em frente do lado direito da rua em que ontem encontrarei Tayanara. Embora pouco acordado, sonhei constantemente enquanto viajava para o porto de Pelemke, onde, pela primeira vez, Tayanara e eu nos encontrávamos; se tratava sempre da primeira vez. Sem chinelos, pés descalços sobre o gelo frio do deserto de Anibetaba, ao sul do porto, eu pensei se não pensara durante todas as semanas seguintes no fim daquela história. Estou um pouco tonto, mas é da Vodka.
Os restos da sobra que não faltou me causam agonia agora, no momento em que todos os países dormem simultâneamente e o sol brilha para lugar nenhum. Pacificamente o Atlântico indica a borda do oceano que me levará para um dos pólos; que seja o de cima, ao de baixo já fui e desgostei. Semeio lembranças de plantas que germinarão carnívoras - adotadas - sugarão meu sangue que jorro desde agora pela janela, a poucos metros da cama que ainda não encontrei.
Tayanara, Anibetaba, Pelemke, nomes estranhos para tão supérfluo sentimento que acomete meus semelhantes. Me mudo imediatamente, desconheço ter permanecido igual na festa de amanhã - que começará em dois minutos, a contar de agora.
Nu.
Suor de goiaba que bebo nas lembranças do meu sonho, brigaremos, hei de separar-me dela, e só então faremos as pazes, é menos doloroso, embora mais dolorido. Mundo sem cor, o tempo desfaz o que gastamos tanto tempo construindo. O Arco-íris é uma mancha de vinho na festa do céu, a chuva é a trilha sonora. Aqui no deserto, entretanto, não chove e meus pés continuam gelados da despedida. Visto-me de conclusões feitas por outrem, justificativas do pêndulo que me lança para longe de Tayanara, para perto do não-sei-o-quê, Pólo Norte aqui vou eu.
Ainda tonto, decerto a vodka.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Que seja infinito enquanto dure

Pois pediste uma declaração
Então por isso aqui estou
porque ciente da separação
sei que não duro e que já vou

De improviso não sei compor
nem se almeja a perfeição
foi por querer, não por amor
que pediste-me a declaração

Quando voltar, tudo mudou
mas sempre muda, inconsciente
sei que não duro e que já vou
só no futuro estarei presente

Eis aqui minha declaração
não de amor, mas de amargura
para a quase finda relação

já avançada à esta altura
aproveitemos nossa união
que é imortal enquanto dura

Ping.
Moda é a possibilidade de agir ou se vestir de modo tosco por certo período de tempo sem ser discriminado por isso.
Ping.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Lapso de des-solidão

Paro e penso, logo existo (0mas não vem ao caso agora), penso se atendo ou não ao telefone - já está no segundo toque - , medito se respondo enquanto a campainha soa, alguém veio me visitar. Procuro descobrir quem é pela maneira que bate à porta, não sei de quem se trata, mas continua batendo; mensagem no celular: leio depois. Por enquanto apenas decido entre a porta ou o telefone. E o computador, pois alguém me chama pelo messenger; tlirim, outro; duas luzinhas laranjas piscam no monitor, mas podem esperar também, porta ou telefone? porta, claro! corro para a por.. não, telefone. Atendo: tuuuuu - merda. Porta: ninguém. Foi-se, olho para o chão, apenas uma conta de luz atrasada (mas por que o desgraçado tocou a campainha?); ok, celular, mensagem, "promoção mande dois torpedos pelo preço de...", porra, corro para o computador, qual leio primeiro? qual? qualquer um, merda, à essa hora pouco interessa a ordem... Escuridão. Cortaram a luz.

quinta-feira, novembro 03, 2005

.Dizer que o fundo do poço é reconfortante pois pára a queda é influir na falácia otimista de que o chão não é duro. Dentre as diversas correntes filosóficas que sustentam tal melancólica hipótese, chamo a atenção para um pequeno livro, obscuro e sempre empoeirado em sebos de esquina, do filósofo paraguaio Javier del Chile, provisoriamente intitulado O pó da água, El pó de l´água, mas que em sua terceira edição ganhou o nome definitivo de El Cabrón (Os males e as cabras negras, 117 págs, ed. Certo-ponto, R$ 12,45 na edição de bolso).
.O livro em si não se perde em incongruências ou debates irrelevantes como os que tenho tratado neste site, mas a passagem em que ele cita o tradicional filme francês Les Chiens du Carnaval, do já esquecido diretor Jacques de Ville, me parece propositalmente de má-fé. A cena citada envolve duas freiras fantasiadas, uma de cabra, outra de bezerro, e um bezerro com batina de padre. O simbolismo dos diálogos entre os três está certamente entre os melhores momentos da história cinematográfica do sul da França; uma verdadeira declaração de amor aos filmes do fim da década de cinquenta.
.Jacques de Ville, casado com a famosa anfitriã Cecille de Volanges, usou esta cena (além de alguns prévios curtas-metragens) para retratar o tempo em que ficou trancafiado no mosteiro de Partout Haut-de-Gauche, em uma localidade de difícil acesso da divisa Suíça-França, e teve de comer queijos-de-cabra (por sete anos seguidos) como expiação de seus pecados com a freira de Montmartre em Paris - no amplamente divulgado "O caso da Orgia de Moulin Rouge". Freira esta que influenciou decisivamente a carreira do pintor alemão Wolfram von Aschenbach, divulgando seus trabalhos na corte britânica, e por vezes servindo de modelo para suas pinturas à óleo (seus trabalhos menos expressivos, mas de maior cunho artístico). W. von Aschenbach terminou seus dias na casa de uma famosa violinista inglesa que nunca teve seu nome revelado, a não ser no leito de morte do irmão de von Aschenbach, que mencionou a palavra "Rosebud" quando perguntado da identidade de sua cunhada. Contudo o trocadilho sugere um filme, e não uma pessoa.
.Bem, onde estava mesmo?

quarta-feira, novembro 02, 2005

Texto modificado com mouse
Onde esoisTnsei ocês q - O que?
- da Draórisos um ano de para mostrar o-
cpararam paraaado. outra e me - stava ontem à noite?mue
- Na com ela.não têmu - - Fiz ma h
- quanto iFizem astande ora
asadovocê tem se dicdo da sua faília.
- Eu? São vcasa. s.companh
Quem?

terça-feira, novembro 01, 2005

Roger e Rodolfo

E Rodolfo matou Roger.
E, à noite, Rodolfo matou Roger.
E, à noite, Rodolfo matou Roger, que sorriu.
E quando chegou em casa, à noite, Rodolfo matou Roger, que sorriu.
E quando chegou em casa de surpresa, à noite, Rodolfo matou Roger, que sorriu.
E quando chegou em casa de surpresa, à noite, depois de semanas de planejamentos e esperas, Rodolfo matou Roger, que sorriu.
E quando chegou em casa de surpresa, à noite, depois de semanas de planejamentos e esperas, Rodolfo matou a saudade de Roger; que sorriu.
E quando chegou em casa de surpresa, à noite, depois de semanas de planejamentos e esperas, Rodolfo matou a saudade de Roger; que sorriu felissíssima. Eram duas bichas felizes.