terça-feira, novembro 15, 2005

Devo partir
Foi quando eu me levantei para voltar a dormir, caí no sono no instante que dava o primeiro passo, olhei em volta: não havia cama, ou se houvesse, eu não a via. Sigo em frente do lado direito da rua em que ontem encontrarei Tayanara. Embora pouco acordado, sonhei constantemente enquanto viajava para o porto de Pelemke, onde, pela primeira vez, Tayanara e eu nos encontrávamos; se tratava sempre da primeira vez. Sem chinelos, pés descalços sobre o gelo frio do deserto de Anibetaba, ao sul do porto, eu pensei se não pensara durante todas as semanas seguintes no fim daquela história. Estou um pouco tonto, mas é da Vodka.
Os restos da sobra que não faltou me causam agonia agora, no momento em que todos os países dormem simultâneamente e o sol brilha para lugar nenhum. Pacificamente o Atlântico indica a borda do oceano que me levará para um dos pólos; que seja o de cima, ao de baixo já fui e desgostei. Semeio lembranças de plantas que germinarão carnívoras - adotadas - sugarão meu sangue que jorro desde agora pela janela, a poucos metros da cama que ainda não encontrei.
Tayanara, Anibetaba, Pelemke, nomes estranhos para tão supérfluo sentimento que acomete meus semelhantes. Me mudo imediatamente, desconheço ter permanecido igual na festa de amanhã - que começará em dois minutos, a contar de agora.
Nu.
Suor de goiaba que bebo nas lembranças do meu sonho, brigaremos, hei de separar-me dela, e só então faremos as pazes, é menos doloroso, embora mais dolorido. Mundo sem cor, o tempo desfaz o que gastamos tanto tempo construindo. O Arco-íris é uma mancha de vinho na festa do céu, a chuva é a trilha sonora. Aqui no deserto, entretanto, não chove e meus pés continuam gelados da despedida. Visto-me de conclusões feitas por outrem, justificativas do pêndulo que me lança para longe de Tayanara, para perto do não-sei-o-quê, Pólo Norte aqui vou eu.
Ainda tonto, decerto a vodka.