quarta-feira, dezembro 13, 2006

Alguns de dentro do baú

Pressa

Vem Maria, corre pra cá,
Faz minha barba e traga meu chá
Vamos, venha e balance
suas cadeiras assim de relance

Venha Maria, favor não demore
preciso que você me namore
Coçe minhas costas e cante sem dó
o que eu ouvia na casa da vó

Olha Maria que estou com saudade
Venha correndo, quero te beijar
E eu que gostava já na sua idade
de comer doce e me lambuzar


Fim de jogo

Perseguia verduras infrutíferas e
Perdi-me em parcas possibilidades
Só encontro verdades das duras
Em meio a tantas boas-vontades

Dentre a multidão de pronomes
No calor dos números é que me fixo
Conto dedos que tenho em mente
Corto os medos desde o prefixo

Remediando o incurável
Parcelo as dívidas que me afogam
Pertenço ao tempo inapelável

Contenho ramos que não se podam
De jogos limpos que não se jogam
Placar perdido, irrecuperável.


Futuro dourado

Estou pensando no que falar
A pensar, surpreendo-me falando.
Não por tempo, nem por lugar,
Localizo o quê, o onde, o quando.
Falta o porquê, o quem, o par,
Que venho há tempos garimpando.


Não minta

Achei que eram poucas
As mentiras do meu padrinho
Achei errado, eram muitas
Mas aprendi devagarinho

Hoje minto e acho graça
Acho e sinto confortável
O conforto que ela passa
O tocar do inalcançável.

Pensei ter ido longe
Do mesmo lugar nunca saí
Padrinho-santo-monge

Na porta de espera do céu
Volte pra me tirar daqui
da borda salgada, sem mel

Saudades

O som miúdo que fazes
Ao burbulhar pasta-de-dente
Obriga-me a pedir as pazes
pra mim, pra ti, pra gente.

Tenho saudades dos estalos
Lembranças choram por você
Quero socos, choros e calos
Quero de volta aquele auê.

Prima Vera

Por favor me mande flores
Acolhendo-me de volta
As últimas que eu mandei
Voltaram com seu odor
Com lágrimas que não sequei
Cicatrizes sem muita dor
Por favor, mande-me flores
Acolhendo-me de volta
Quero os choros e as dores
Quero sua ida e sua volta
Quero de volta os meus amores.
Por favor,
Mande-me flores.

Queria te mostrar o fundo do oceano, a paz que eu encontro lá
eu queria explicar-te o teu engano e o melhor modo de amar
Voaríamos então juntos, por sobre as nuvens de pó
Riríamos achando graça das mentes de uma nota só
Eu queria descrever-te a incomplexidade do que está porvir
meticuloso, e impunemente, faria teu olhar sorrir
Chamam-me de maluco louco, pensam de mim em troça
mas não me incomodam nem um pouco, nada que possa
separar-me do meu caminho, rotina de manco sozinho
correndo mais leve que muita pena de ganso
chegada mais breve ao último porto de descanso