Alguns de dentro do baú
Pressa
Vem Maria, corre pra cá,
Faz minha barba e traga meu chá
Vamos, venha e balance
suas cadeiras assim de relance
Venha Maria, favor não demore
preciso que você me namore
Coçe minhas costas e cante sem dó
o que eu ouvia na casa da vó
Olha Maria que estou com saudade
Venha correndo, quero te beijar
E eu que gostava já na sua idade
de comer doce e me lambuzar
Fim de jogo
Perseguia verduras infrutíferas e
Perdi-me em parcas possibilidades
Só encontro verdades das duras
Em meio a tantas boas-vontades
Dentre a multidão de pronomes
No calor dos números é que me fixo
Conto dedos que tenho em mente
Corto os medos desde o prefixo
Remediando o incurável
Parcelo as dívidas que me afogam
Pertenço ao tempo inapelável
Contenho ramos que não se podam
De jogos limpos que não se jogam
Placar perdido, irrecuperável.
Futuro dourado
Estou pensando no que falar
A pensar, surpreendo-me falando.
Não por tempo, nem por lugar,
Localizo o quê, o onde, o quando.
Falta o porquê, o quem, o par,
Que venho há tempos garimpando.
Não minta
Achei que eram poucas
As mentiras do meu padrinho
Achei errado, eram muitas
Mas aprendi devagarinho
Hoje minto e acho graça
Acho e sinto confortável
O conforto que ela passa
O tocar do inalcançável.
Pensei ter ido longe
Do mesmo lugar nunca saí
Padrinho-santo-monge
Na porta de espera do céu
Volte pra me tirar daqui
da borda salgada, sem mel
Saudades
O som miúdo que fazes
Ao burbulhar pasta-de-dente
Obriga-me a pedir as pazes
pra mim, pra ti, pra gente.
Tenho saudades dos estalos
Lembranças choram por você
Quero socos, choros e calos
Quero de volta aquele auê.
Prima Vera
Por favor me mande flores
Acolhendo-me de volta
As últimas que eu mandei
Voltaram com seu odor
Com lágrimas que não sequei
Cicatrizes sem muita dor
Por favor, mande-me flores
Acolhendo-me de volta
Quero os choros e as dores
Quero sua ida e sua volta
Quero de volta os meus amores.
Por favor,
Mande-me flores.
Queria te mostrar o fundo do oceano, a paz que eu encontro lá
eu queria explicar-te o teu engano e o melhor modo de amar
Voaríamos então juntos, por sobre as nuvens de pó
Riríamos achando graça das mentes de uma nota só
Eu queria descrever-te a incomplexidade do que está porvir
meticuloso, e impunemente, faria teu olhar sorrir
Chamam-me de maluco louco, pensam de mim em troça
mas não me incomodam nem um pouco, nada que possa
separar-me do meu caminho, rotina de manco sozinho
correndo mais leve que muita pena de ganso
chegada mais breve ao último porto de descanso
<< Home