Subdesenvolvimento transbordou lá de cima
Dois pontos cruciais da colonização do Brasil que muito influenciaram o seu subdesenvolvimento posterior, o escravismo e o açúcar, o fizeram pois, ambos, não enriqueciam o país e só o primeiro dava grande retorno a Portugal. O plantio do açúcar foi fundamental para a definitiva ocupação das terras do Novo Mundo, mas menos da metade do lucro final do produto corria para os lusitanos, pois a parte de agregação de valor, o refino e a distribuição pela Europa, era feita pelos Holandeses. Desde lá, nosso superávit primário era a maquiagem eufórica de um futuro usurpado.
Impossível, para o cultivo da cana, dispor de relações assalariadas: se o salário fosse baixo, os trabalhadores simplesmente migrariam tomando posse de outras terras e ali iniciariam sua subsistência; se fosse muito alto, o salário inviabilizaria o lucro. A escravidão, fora de moda na Europa, assumiria seu caráter tenebroso nas colônias. Escravizar o índio, porém, também era inviável. A forte oposição dos jesuítas e uma adaptabilidade fraca ao trabalho intenso poderiam ter sido revertidos se fossem os únicos problemas; o maior deles era que o comércio de escravos indígenas não espirrava mais-valia em Portugal.
A compra e a venda de seres humanos era tão lucrativa quanto as exportações do país, mas isso não bastava, tinha de ser lucrativa para a Metrópole. Só o comércio de escravos vindos da África, intermediado por Portugueses, desempenharia tal função.
Resumo: pra lucrar com o Brasil era preciso exportar alguma coisa, fez-se o açúcar; para lucrar com o açúcar era preciso o escravismo para sua produção, fez-se o comércio de escravos; para que tudo isso resultasse no maior ganho para Portugal, era necessário que os escravos fossem negros, importados por portugueses, e não índios capturados e revendidos por caçadores locais.
Todos esses ingredientes, na panela, resultaram na falta de fermento do bolo do país onde vivemos. O fermento era o surgimento de um mercado interno, era a fundação de escolas, era o desenvolvimento local, era a agregação de valor nas exportações, era o reinvestimento dos lucros no país; tudo isso, teoricamente decorrentes de uma civilização assalariada governada localmente, foi invalidado pela escravidão (escravo não compra, não estuda, não se relaciona) e furtado pelo método exportador-importador (respectivamente de produtos primários e artigos de luxo ou valor agregado) adotado por nossos colonizadores. O perigo é que esse estrago, podendo ser amenizado, tem sua solução postergada ilusoriamente pelos governos atuais, duzentos anos depois, interessados prioritariamente no mesmo superávit primário, na mesma falta de um projeto nacional.
Dois pontos cruciais da colonização do Brasil que muito influenciaram o seu subdesenvolvimento posterior, o escravismo e o açúcar, o fizeram pois, ambos, não enriqueciam o país e só o primeiro dava grande retorno a Portugal. O plantio do açúcar foi fundamental para a definitiva ocupação das terras do Novo Mundo, mas menos da metade do lucro final do produto corria para os lusitanos, pois a parte de agregação de valor, o refino e a distribuição pela Europa, era feita pelos Holandeses. Desde lá, nosso superávit primário era a maquiagem eufórica de um futuro usurpado.
Impossível, para o cultivo da cana, dispor de relações assalariadas: se o salário fosse baixo, os trabalhadores simplesmente migrariam tomando posse de outras terras e ali iniciariam sua subsistência; se fosse muito alto, o salário inviabilizaria o lucro. A escravidão, fora de moda na Europa, assumiria seu caráter tenebroso nas colônias. Escravizar o índio, porém, também era inviável. A forte oposição dos jesuítas e uma adaptabilidade fraca ao trabalho intenso poderiam ter sido revertidos se fossem os únicos problemas; o maior deles era que o comércio de escravos indígenas não espirrava mais-valia em Portugal.
A compra e a venda de seres humanos era tão lucrativa quanto as exportações do país, mas isso não bastava, tinha de ser lucrativa para a Metrópole. Só o comércio de escravos vindos da África, intermediado por Portugueses, desempenharia tal função.
Resumo: pra lucrar com o Brasil era preciso exportar alguma coisa, fez-se o açúcar; para lucrar com o açúcar era preciso o escravismo para sua produção, fez-se o comércio de escravos; para que tudo isso resultasse no maior ganho para Portugal, era necessário que os escravos fossem negros, importados por portugueses, e não índios capturados e revendidos por caçadores locais.
Todos esses ingredientes, na panela, resultaram na falta de fermento do bolo do país onde vivemos. O fermento era o surgimento de um mercado interno, era a fundação de escolas, era o desenvolvimento local, era a agregação de valor nas exportações, era o reinvestimento dos lucros no país; tudo isso, teoricamente decorrentes de uma civilização assalariada governada localmente, foi invalidado pela escravidão (escravo não compra, não estuda, não se relaciona) e furtado pelo método exportador-importador (respectivamente de produtos primários e artigos de luxo ou valor agregado) adotado por nossos colonizadores. O perigo é que esse estrago, podendo ser amenizado, tem sua solução postergada ilusoriamente pelos governos atuais, duzentos anos depois, interessados prioritariamente no mesmo superávit primário, na mesma falta de um projeto nacional.
<< Home