segunda-feira, junho 12, 2006

Foi dia vinte...

Dia vinte não-sei-que-mês-que-ano, fui correspondido. Dia vinte roubei um cobertor com que hoje me aqueço em dias frios. Dia vinte era mais que meio do mês e trouxe mais do dobro do esperado, trouxe o que não se alcança com o erguer das mãos, o impossível com rezas, o mais que plausível com vontade. Esse dia me apresentou a mulher da minha vida (se eu observar minha vida até agora) e a mãe dos meus filhos (se fosse possível apressar o tempo e tê-los agora). Foi o dia mais errado para começar, foi um começo errado do maior acerto da minha vida. Eu amo essa garota, eu admiro essa mulher.
Quando o que tentamos definir escapa de qualquer definição, é preciso desistir dos rótulos, jogar longe os conceitos; é nesse momento que algo imortal nasce, e quando nasce essa coisa que – hoje - nunca vai morrer, é preciso desistir dos conceitos e atirar longe os rótulos. Eu percebi isso num dia de decisão pra muita gente, eram milhares, mas nem tantas vidas foram tão abaladas naquele dia; nas horas em que a conheci, eu não sabia o que esperar, mas tinha consciência do que florescia. No vestibular de dois mil e quatro eu encontrei o que hoje me anela o dedo, num dos dias vinte do ano seguinte cheguei ao ápice do que tanto esperava, do topo pra cima o inexplicável se apresenta, é daqui que escrevo, flutuo por sobre medos e esperanças bobas, navego em rios sem margens e mares de faíscas, faíscas marginais que acendem sorrisos medrosos e bobos de deboche, onde inspiro o ar que me suga e busco sonhos no aconchegar das pálpebras. Um amor de pessoa, uma mulher admirável, um ser que de tão perfeito clama por um adjetivo novo que o situe entre páginas saborosas dum dicionário velho. A pessoa mais doce, a mais meiga, uma delicadeza só realizada em contos-de-fada; e bela, a mais bela das belezas não vulgares, que inocente dormia esperando pelo beijo que não chegava, perdida entre sonhos e raciocínios lacrados. A mais ingênua e pura das belezas caiu-me nas mãos e se apossou do meu coração, a pessoa mais querida, a mais legal, e digo isso para que se eternize, não para que me renda frutos, digo isso para que ela continue mesmo sem mim a flutuar por sobre os medos dos vãos, por sobre a sujeira dos fracos, a criatividade em pessoa, um anjo de alegria.
Achado não é roubado, se foi deus quem o perdeu, fui eu quem o encontrou. Esse anjo é meu e não devolvo.