sábado, junho 10, 2006

Setenta e duas sombras me seguiam por corredores escuros. Mas sombras só se manifestam quando há um mínimo de luz, pensei, e elas sumiram imediatamente. Agora me perseguem por entre praias e calçadas ensolaradas, sobre as quais meus chinelos fazem barulhinhos com a areia. Não me importo, embora me persigam o tempo inteiro, sigo em frente sem olhar para trás. Na verdade, ontem, olhei e uma acenou para as outras em contentamento, tinham sido percebidas; mas quando mal se arrumavam para me assustar, virei-me e comprei um picolé. O picolé durou pouco, caiu ao meu lado e fez barulhinhos na areia. Então lembrei-me das setenta e duas sombras e que elas não faziam os mesmos barulhinhos, mesmo sendo as que mais tinham contato com a areia. Voltei-me e ensaiei uma conversa com algumas das cinqüenta e duas sombras, e quando notei o fato, de que não passavam de quarenta, calei-me. Olhei para a praia, para cada guarda-sol na areia, para cada dedão apontando o céu, voltei-me novamente para as sombras, apenas uma. Teríamos começado uma grande amizade, agora, a sós, caso um grão de areia não me tivesse feito piscar.
Sentado num murinho, rodeado por setenta e duas almas ao sol, nunca a solidão me fez tanta companhia.