sábado, junho 24, 2006

Daqueles versinhos nordestinos

Então foi que olhei Maria
Ela que nada sofria
Com dor deu-me sua mão.
Pensei no que que lia
Aquela com mão vazia
Um romance do sertão.

Não me fiz de rogado
Cabra bom é cabra armado
Ora pistola, ora facão
Disse Maria me coce o lado
Teu marido tá encrencado
Procurado aqui no sertão.

Bolas! Maria não me olhou
Sequer me desconversou
Achei que não me entendia
Entendedor é que não sou
Sua saia ela levantou
E de lá mostrou-me o guia

Do sertão como Maria
Fantasiado eu fugiria
Com ela de meu patrão
De saia me redimiria
Coisa tola coisa vazia
Pois saia não uso não

Saí que foi correndo
Ribanceira fui descendo
Chamando Zé e João
Os que me foram vendo
Seguir-me foram querendo
Maior exército do sertão.

O que não faz medo de mulher
Brigar comigo ninguém mais quer
Mais me respeitam que boi babão
Em brigas feias meto a colher
Maria é sábia, sábia mulher
Lendo romance de complicação

Maria é linda, eu amo ela
Maria é boba é uma cadela
Eu sou cachorro, sou puro cão
Farejo desde febre amarela
Até churrasco com chimarrão
Sou mais esqueleto que guela
Passar fome manda o sertão.

Quem se alimenta é Maria
Não larga o livro noite e dia
Mas me jogou na solidão
Quero varanda ou maresia
Quero amor, quero Maria
E um futuro pro meu sertão.

Hoje se me perguntam
Onde está a confusão
Olho Maria e sua calma
Miro olhos de confissão
Coisa confusa é minha alma
O que restou e o que que não.