domingo, março 27, 2005

1
Quando o copo está vazio,
quero enchê-lo;
mas e se está cheio,
por que não posso encher mais ainda?
em um universo sem limites, um universo infinito,
somos finitos, somos limitados.
Deus foi cruel conosco
nos mostrando a imortalidade,
e nos presenteando com o poder do fim.
impossível lidar com essa impotência,
criamo-nos com diversas visões da vida no além-dela.
Antes uma desregrada que uma servidão no Paraíso.
Antes do dia vem a manhã.
Quero um copo sem fundo, beber direto da fonte.

2
Faz tempo que não faç'um verso
Há muito que estou disperso
esqueci-me das aflições
dos tornados e furações
Tudo me vem hoje ao inverso

Do rio que alagava o mar
no tardio e manso desaguar
a fonte de sal secou
a água se desalterou
e no leito sujo voltou a jorrar

talvez por isso tergiverso
talvez pelas ondulações
por causa das multidões,
do mar e do rio transverso.

nego-me, chego a jurar:
o que de mim se mudou
voltará a me acompanhar
e não será com quem vou.

ligo-me de novo
ao ovo e me renovo.