sexta-feira, julho 22, 2005

Desgaste
O sol ainda não morreu, falta-me pouco para alcançar o zenite, para dormir ao lado do canto escuro da lua. Corro; não para algum lugar, nem de lugar nenhum. Corro porque todos correm e porque o sol ainda não morreu. Ouço dizeres e frases prontas e rio, pois caio ao tropeçar numa estrela. Ausência de forças para me levantar. Continuo. Continuo nadando, por meio da lama que dos olhos dos outros jorra, por entre os galhos que me prendem no ninho. Nado porque falta-me ar, porque ainda me sobram gotas de esperança e porque o sol ainda não se extinguiu. Sempre adiante, esqueço de olhar para trás, para os que ficaram no caminho, para os que também tropeçaram; aqueles que não ajudei, aqueles que me pediram ajuda e que não assisti. E minha consciência está limpa, assim como limpas as pétalas de uma rosa ficam depois de uma tempestade de areia; estou tranquilo contudo, pois inexistem consciências tão asseadas quanto o esterco, e não há uma sem pó. O tempo desliza em trilhos livres de pedágios, o tempo tem a via preferencial na avenida da vida. Estou sem ar pois corro sozinho a pior das corridas, a mesma que não corre quem pouco anda; a mesma dolorosa fadiga de não ter o que se deseja corre ao meu lado. Logo, não estou mais sozinho, é pior que isso, estou em má companhia, mas falta-me pouco para alcançar o zenite, para dormir ao lado do canto escuro da lua; e o sol, o sol ainda não morreu!