terça-feira, julho 05, 2005

Início para um conto, ou fim de um romance.
É quando um sonho se torna realidade que se deve prestar mais atenção aos pesadelos.
O pesadelo presente na vida de Tom, entretanto, era agora a menor de suas agonias. Seu maior temor era o de perder o sonho que há pouco conquistara. O sonho pelo qual esperara dois séculos (não literalmente, exagera-se, mas dá quase isso).
Helena passava também por situação semelhante; Helena, porém, nunca fez parte dessa história.
O frio é fogo, pensava Tom, como se pensasse no inverno que se aproximava. E o inverno chegou, e veio a primavera mesmo crua, e com ela um verão imaturo...
- É fogo! Que frio! Disse ele para quem quer que quisesse ouvir, mas, como estava só, coube ao seu cachorro a função. Sim, precedido por um metálico outono, chegava novamente a mais fria das quatro estações.
- Os estações, pois no plural, quando há elemento masculino (o inverno, o outono...), generaliza-se, viu? Insistia ele para seu cachorro, que de tão obediente consentia tudo com olhos de poço. Há algo de real na solidão inventada.
O sonho, aquele do início, foi enforcado pela corda do inesperado e ainda jaz suspenso sobre as folhas inócuas do último outono.
O pesadelo, por si só, procriou o desgosto nas árvores da esperança inalcançável. E as frutas caem.
...
Hoje, Tom saiu para comprar ração para seu cachorro, o único que ainda não entende que Tom não voltará.