quinta-feira, março 01, 2007

Salto sem pulo

Sentou-se no banco engordurado do trem, de cabeça baixa, hesitava em encarar quem quer que estivesse ao seu lado, ou à sua frente. O chão balançou e reclamou de ser deixado para trás, apitou tentando chamá-la de volta; a marcha imperial da partida começara e ela nem se dignara a levantar o olhar - se o fizesse, veria que estava em frente ao que tentara abandonar minutos antes, se levantasse os olhos e mirasse o espelho que lhe enfrentava obstinadamente, veria que a perseguia ainda aquilo do que fugia; enxergaria que seus olhos continuavam vermelhos, que o passado não descola com o simples pagamento de uma passagem de trem. Abriu a mão sobre o banco engordurado, esmagou-a contra aquele estofado fétido e viu que sempre estaria metida na merda.