quinta-feira, agosto 24, 2006

Os Determinantes do Crescimento, por quê o Brasil não cresce

A média de crescimento do PIB nos últimos quatro anos é de 2,6% a.a., consideravelmente abaixo da média de crescimento mundial, que é de quase 5%. No ritmo em que o país se encontra, há uma perspectiva de se atingir um patamar de 3,9% apenas em 2010, causando a deteriorização da estrutura e das bases sociais do Brasil, levando-o a uma perda de competitividade com países como China, Rússia, Índia e a própria Argentina, que crescem a médias de 10%, 6,8%, 7,8% e 9,1% respectivamente (segundo dados do IPEA).
As reformas feitas falharam em recolocar o Brasil numa rota de desenvolvimento ao incentivar demasiadamente o capital financeiro sem, em contrapartida, atrair investimentos produtivos. O país obteve ganhos de produtividade, mas que não foram suficientes para criar condições de reduzir o gasto público, ponto crucial para a volta do crescimento. A redução do gasto público movimentaria três pilares fundamentais para o país voltar a crescer, viabilizaria: a redução da dívida pública, a diminuição da carga tributária e o aumento do investimento público. Os três, somados, afetariam todos os componentes do PIB, pois aumentariam tanto o Consumo quanto o Investimento e racionalizariam a diferença entre Gastos e Tributos.
O aumento do investimento público deveria se dar na forma de uma política industrial voltada para a inovação, à moda neoschumpteriana, aumentando o fator tecnologia nos campos com grandes possibilidades de saltos de qualidade e incorporação de margens de contribuição. Isso se realizaria em áreas nas quais já possuímos vocação natural, como na agricultura, porém com ambições maiores, deixando de lado o simples extrativismo e partindo para a incorporação de tecnologia nos nossos produtos, como no setor de biodiesel, pesquisas químico-farmacêuticas e biogenética (como os grandes avanços já realizados pela EMBRAPA).
A função de produção seria estimulada tanto no que consta à taxa de crescimento tecnológico quanto no conseqüente aumento de trabalhadores efetivos. Estes viriam de políticas públicas voltadas para a educação, cuja falta é fator crucial para a desigualdade salarial. Um círculo vicioso positivo se formaria, com inovações gerando empregos de salários decentes, educação favorecendo as inovações, e taxa de juros com quedas sucessivas até patamares racionais, o que permitiria mais consumo e investimento, menor desemprego, mais inovações e assim por diante. Outros fatores influenciam a renda; cuidados com direitos de propriedade pouco sólidos e mercados financeiros pouco desenvolvidos também devem ser tomados, pois são geradores de expectativas positivas fundamentais para a estabilização econômica.
O problema do Brasil é ajeitar a casa e saber pra onde seguir, o que não é mistério pra ninguém; a única coisa que ainda não permanece clara é qual projeto de país adotar. Somos um dos países mais fechados para importação, o que contraria as regras de um mercado eficiente, mas isso também é contrariado pelos EUA, pai do liberalismo, que protege sua agricultura defasada. Não é seguindo os modelos e padrões do primeiro-mundo que os países subdesenvolvidos perderão seu prefixo corrosivo, pois a economia mundial não se trata de uma escada onde se tomam receitas para subir degraus; América, Europa e Japão, países desenvolvidos, em via de regra nunca foram de terceiro-mundo, não estão onde estão por terem seguido a mesma fórmula e não devem exigir uma padronização de quem ainda não alcançou certo patamar de resultados.
Os países que mais se destacam em salto de qualidade e crescimento seguiram regras próprias. A Coréia do Sul se desenvolveu com base em um projeto nacional e duros protecionismos, caminho similar ao da China; e o Chile rearrumou a casa ainda na ditadura, quando deu início a um projeto de previdência social exemplar. Para o Brasil, o caminho é investir em educação e gerar inovações, mas isso não basta se faltar um foco claro onde empregar a tecnologia, se em setores do futuro ou em regras antigas, em futuros do passado.